Primeiro precisamos
entender que para emagrecer devemos estar atentos ao balanço energético
negativo (quantidades de calorias que ingerimos menores que aquelas que
gastamos), e não aquela atividade que “consome mais gordura” durante sua
execução. O treinamento de força vai causar um dispêndio energético menor em
comparação a modalidades aeróbias moderadas e altas, o que fez com que muitos
profissionais o “deixassem de lado” na prescrição da atividade física quando o
objetivo era emagrecimento. Entretanto quando manipulado de uma forma correta,
baseada em estudos da fisiologia do exercício, em associação a uma dieta
ELABORADA POR UMA NUTRICIONISTA, este pode contribuir para o
emagrecimento. A seguir discutiremos
sobre determinadas variáveis - dispêndio energético, EPOC, concentração
hormonal, taxa metabólica de repouso – que vão ser responsivas a manipulação
das variáveis presentes na carga de treinamento, quando associadas e
periodizadas contribuirão para a redução ponderal do peso corporal.
“O dispêndio energético (DE) no treinamento de força (TF) parece
depender da manipulação de inúmeras variáveis tais como: volume, intensidade,
intervalo de recuperação entre series e exercícios, velocidade de execução,
alem do método de treinamento utilizado” (1). Para que possamos medir esse (DE)
analisa-se o consumo de oxigênio, onde se estima a quantidade total de energia
gasta, utilizando-se para tal a quantidade de oxigênio consumido (VO2) na oxidação
dos substratos energéticos e o gás carbônico que é eliminado pela respiração.
Entretanto como a musculação trata-se de um esforço anaeróbio, medir somente o
(DE) pelo VO2 torna-se complicado, portanto soma-se a esse VO2 a concentração
de lactato e o EPOC (consumo excessivo de oxigênio pós-exercício). Para que
possamos adicionar o lactato ao dispêndio energético precisamos convertê-lo em
Kcal. “Tem sido proposto que, para cada milimol de lactato seja computado 3ml
de O2 por quilograma de massa corporal, e posteriormente, convertido para
quilocalorias a partir da relação: 5.05 kcal para cada litro de oxigênio.”
Quanto ao EPOC “deve-se excluir 20% do EPOC para a quantificação do DE total de
uma sessão de exercícios de força ou de natureza anaeróbia, já que esta
porcentagem incluiria a ressíntese de ATP-CP do metabolismo anaeróbio aláctico,
o que já estaria incluído no consumo de oxigênio durante a passagem do período
de repouso ao exercício (déficit de oxigênio)”.(1)
“Estudos tem apresentado valores de (DE) líquido próximos de 6 a 9
kcal por minuto em resposta ao treino em circuito, sendo que protocolos com
15-18 repetições em intensidades de, aproximadamente, 40% de 1RM e intervalos
de recuperação de 15 segundos entre as series, parecem incrementar de forma
mais significativa o (DE). Outros métodos de (TF) parecem também ser efetivos
no incremento do (DE). O (TF) tradicional, por exemplo, intensidades entre
60-80% de 1RM, 8 a 10 repetições por série, e 2-3 series com intervalos entre
1-2 minutos entre elas, parecem promover um significativo impacto metabólico”.(1)
Entretanto, um aspecto que precisa ser pensado, trata-se da
prescrição de uma quantidade alta de repetições, aonde os alunos em grande
maioria, não chegam a ultima repetição fazendo um esforço máximo, pois ao
prescrevermos muitas repetições eles já subestimam o peso necessário. Para que
o volume alto possa aumentar a concentração de lactato e estas influenciarem o
(DE), a intensidade deve ser referente a 100% de 20 RM e não 40% de 20RM, por
exemplo.
“Ratamess et al. compararam as respostas metabólicas de 10 diferentes
protocolos de exercício com intensidades de 75% e 85% de 1RM, para 10 RM e 5
RM, respectivamente, utilizando intervalos de 30seg., 1, 2, 3 e 5 min., e
observaram maior VO2 nos dois menores intervalos. Estes resultados sugerem que
menores intervalos de recuperação entre series e exercícios aumentam a
intensidade da sessão de treinamento, provocando maiores valores de (DE).”(1)
Agora vamos avaliar qual seria o melhor protocolo para aumentar o
EPOC que contribuirá para um maior aumento no gasto calórico da atividade. “O
consumo excessivo de oxigênio pós-exercício (EPOC) é a elevação da taxa metabólica
(VO2repouso) acima dos níveis pré-exercício durante a recuperação. A literatura
sugere que exercícios de força realizados em intensidades acima de 70% de 1RM
apresentam maior magnitude de EPOC”(1). Entretanto essa magnitude do EPOC vai
depender da forma como se estrutura a carga de treinamento (volume,
intensidade, densidade, duração, intervalo).
Em um estudo citado por Pinto, Lupi e Brentano (2011) os autores
investigaram o efeito da intensidade no EPOC em protocolos de mesmo volume. Os
valores de EPOC foram significativamente maiores no protocolo de alta
intensidade, o que parece ocorrer devido ao maior distúrbio metabólico durante
o exercício, exigindo (DE) aumentado pós-exercício, a fim de restabelecer os
processos fisiológicos.
O intervalo de recuperação entre séries e exercícios trata-se do
componente da carga de treinamento que deve ser mais controlado, onde este irá
afetar tanto o dispêndio energético da atividade em si quanto o consumo
excessivo de oxigênio ao final da atividade. Sabendo-se que “maiores intervalos
de recuperação irão permitir que o lactato, as concentrações de ATP-CP e a
temperatura corporal retornem parcialmente ou totalmente aos valores
pré-exercício. Sendo assim, parece que a relação entre o intervalo de
recuperação e o EPOC esta inversamente relacionada.” (1)
Quando a intenção é avaliar a diferença de magnitude do EPOC em
protocolos com alto volume em comparação a alta intensidade, precisamos recorrer
ao conceito de trabalho total, que se trata da multiplicação entre a carga e o
número de repetições. Protocolos diferentes que igualaram o trabalho muscular total
perceberam que, a alta intensidade possui maior influência no EPOC. Mas também
quando este não é igualado, aquele que possuir maior trabalho muscular total
influenciará mais no EPOC, aspectos discutidos em Almeida et al (2011).
Outros aspectos ainda devem ser controlados, como por exemplo, a
resposta hormonal a diferentes cargas de treinamento. Já se sabe que, “embora
muitos fatores contribuam para o maior EPOC no treinamento de força (TF), as perturbações
hormonais podem afetar de forma significativa este comportamento, particularmente
catecolaminas, cortisol e hormônio do crescimento (GH), podem ser substanciais,
especialmente, se o numero de repetições por serie for grande (>5) e se o período
de intervalo entre series for ≤ 1 minuto. Efeitos residuais de hormônios podem
apresentar maior efeito sob o consumo energético da recuperação como resultado
do (TF)”. (1)
Portanto, a musculação pode contribuir para a redução ponderal do
peso corporal, entretanto ela contribuirá em um aspecto extremamente relevante
que é o aumento da Taxa Metabólica de Repouso (TMR) com sua manutenção em
valores altos mesmo após a perda ponderal de peso corporal, resultando em uma
manutenção do emagrecimento, não permitindo que o indivíduo retorne ao peso
anterior. Foureaux e colaboradores (2006) em seu artigo de revisão encontraram
autores verificando
que o exercício resistido aumenta a TMR por 16 horas após o exercício em
aproximadamente 4,2%, sugerindo aumento de aproximadamente 50 kcal /dia na TMR
com o exercício físico. Outro estudo verificou que a TMR na manhã seguinte após
um exercício resistido foi 4,7% maior que o mensurado na manhã antes do
exercício. Em outro estudo revisado pelos
mesmos autores citados acima, demonstraram que o treinamento resistido
acompanhado de redução na massa corporal não resultou em redução da TMR.
REFERÊNCIAS
1-
R.S. PINTO, R. LUPI, M.A. BRENTANO –
Respostas metabólicas ao treinamento de força: uma ênfase no dispêndio
energético - Revista Brasileira de Cineantropometria
Desempenho Humano, 13(2), 2011.
2-
A.P.V. Almeida, M. Coertjens, E.L. Cadore,
J.M. Geremia, A.E.L. Silva, L.F.M. Kruel - Consumo de Oxigênio de Recuperação em
Resposta a Duas Sessões de Treinamento de Força com Diferentes Intensidades - Revista Brasileira Medicina do Esporte – Vol. 17, No2, 2011.
3-
G.
Foureaux, K. M. C. Pinto, A. Dâmaso -
Efeito do consumo excessivo de oxigênio após exercício e da taxa metabólica de
repouso no gasto energético - Revista Brasileira Medicina do Esporte, Vol. 12,
Nº 6 , 2006
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