domingo, 3 de março de 2013

DIABÉTICO PODE FAZER TREINAMENTO DE FORÇA? EM QUAL INTENSIDADE?



Com o início do exercício físico há a mudança na utilização de substrato energético, sendo a predominância da utilização de ácidos graxos não-esterificado (NEFAs) logo alterado para uma combinação de NEFAs, glicose e glicogênio muscular. O glicogênio muscular é a principal fonte energética nos momentos iniciais do exercício. Com a continuidade do exercício, a participação da glicose circulante e principalmente dos NEFAs é aumentada de acordo com a diminuição gradual do glicogênio muscular. Assim, o substrato energético predominante, no trabalho muscular, dependerá da intensidade e duração do exercício (SIGAL, KENNY, WASSERMAN, CASTENEDA, SCEPPA, 2004 apud BERNARDINI, MANDA, BURINI, 2010). Segundo Thompson (2004) no exercício de maior intensidade, a oxidação de carboidratos é responsável pela maior proporção de gasto energético do que no exercício de intensidade mais leve.  
São efeitos, agudos e crônicos do treinamento de força, o aumento da captação de glicose muscular pela célula e o aumento da sensibilidade dos tecidos à insulina, diminuindo a necessidade deste hormônio. Segundo Weineck (2005) em pessoas treinadas a captação celular de glicose é aumentada, mas por outro lado, para uma dada concentração de carboidratos menos insulina é necessária, já que sensibilidade periférica de insulina aumenta como adaptação ao treinamento. Thompson (2004) cita um estudo de Kang et al, em que as reduções pós- exercício na sensibilidade a insulina se relacionaram á quantidade de oxidação de glicogênio, apoiando assim o conceito de que efeitos de curta duração do exercício sobre a sensibilidade a insulina se relacionam á depleção de glicogênio muscular. Além de que existe a “auto-regulação” de conteúdo do glicogênio muscular, de forma que a depleção desta reserva leva ao aumento da captação de glicose e repleção de glicogênio muscular. A maior sensibilidade a insulina consegue, portanto, contribuir para a melhora geral no controle da glicose.   
O exercício, sendo ele aeróbio ou de força, leva ao aumento do GLUT4 no músculo. Este aumento no GLUT4 contribui para a melhora da capacidade de transporte de glicose estimulada pela insulina em indivíduos treinados. Isto tem importantes implicações terapêuticas para indivíduos insulino resistentes. A melhora da sensibilidade à insulina observada em pacientes com Diabetes Tipo 2 fisicamente ativos ocorre via aumento da massa muscular, ampliação do fluxo sanguíneo, aumento da densidade dos receptores de insulina, maior captação e utilização de glicose pelo músculo esquelético. A redução do tecido adiposo pode contribuir para a melhora da sensibilidade à insulina e melhora da tolerância à glicose induzida por treinamento físico em pacientes com DM (BERNARDINI, MANDA, BURINI, 2010).
A ACSM (2010) preconiza que o treinamento de força para pacientes diabéticos deve ser estabelecido com uma freqüência semanal de dois a três dias com pelo menos 48 horas separando as sessões de exercício, com a intensidade e volume estando entre 2 a 3 séries de 8 a 12 repetições com 60% a 80% de 1 –RM, com um total de 8 a 10 exercícios de múltiplas articulações com todos os principais grupos musculares na mesma sessão ou em sessões fragmentadas para grupo musculares selecionados.
Cambri e Gevaerd (2006) realizaram uma revisão de literatura onde, ele cita Holten et al. (2004) que avaliaram diabéticos tipo 2 sedentários e indivíduos sem diabetes (grupo controle), com idade média de 66 anos, submetidos a seis semanas de exercícios resistidos com pesos (três sessões semanais), os quais realizaram três exercícios com três séries de 10-12 repetições a 50% de 1 RM durante as três primeiras semanas e entre 70 e 80% de 1 RM nas demais semanas. Sendo que a hemoglobina glicada (A1c) não apresentou alterações expressivas, ao contrário do conteúdo de GLUT-4, que aumentou significativamente.
Estes mesmo autores acharam estudos em que diabéticos treinavam em altas intensidades conseguindo alguns benefícios como o de Castaneda et al. (2002) que constataram reduções significativas na A1 c, com concomitante aumento da massa muscular, quando submeteram diabéticos tipo 2 sedentários, com idade média de 66 anos, a 16 semanas (três sessões semanais) de exercícios resistidos com pesos. O treinamento foi composto por cinco exercícios com três séries de oito repetições entre 60 e 80% de 1 RM durante as oito primeiras semanas e entre 70 e 80% de 1RM nas semanas subseqüentes. Da mesma forma, Dunstan et al. (2002) realizaram um estudo mais prolongado com diabéticos tipo 2 sedentários, entre 60 e 80 anos, durante 24 semanas (três sessões semanais) de exercícios. O treinamento consistia de nove exercícios entre 50-60% de 1 RM durante as duas primeiras semanas; no restante, a intensidade ficou entre 75 e 85% de 1 RM, sendo realizadas três séries de 8-10 repetições. Nessas condições, os níveis de AI c reduziram significativamente: em torno de 7,4% e 14,8% ao final das 12 e das 24 semanas, respectivamente. O grupo controle, que realizou exercícios de flexibilidade, não apresentou alterações significativas em nenhuma das situações.
Thompson (2004) defende o exercício em intensidades mais altas devido à depleção do glicogênio muscular, pois a depleção periódica dessas reservas é necessária ou, no mínimo, valiosa para fornecer um sinal metabólico para regulação superior da sensibilidade á insulina e a capacidade concomitante para o metabolismo eficaz da glicose. Assim, em condições ideais, deve-se defender, no mínimo, o exercício vigoroso periódico para obtenção do efeito ótimo sobre a sensibilidade á insulina, com o propósito de “gastar” o glicogênio muscular. 
REFERÊNCIAS
BERNARDINI AO, MANDA RM, BURINI RC. Características do protocolo de exercícios físicos para atenção primária ao diabetes tipo 2. Revista brasileira de Ciência e Movimento; v.18 n.3, p.99-107, 2010
THOMPSON, P. D. O exercício e a cardiologia do esporte, Barueri-SP, Manole, 1º edição, 2004.
WEINECK, J. Biologia do Esporte, Barueri-SP, Manole, 7º edição, 2005. 
Cambri, L.T.; Gevaerd, M.S. Diabetes melito tipo 2, Hemoglobina Glicada e Exercícios Físicos, Revista Mineira Educação Física., Viçosa, v. 13, n. 2, p. 47-67.2006.